Gula
Temática das mais interessantes, presente
no cotidiano do ser humano desde o início dos tempos, a gula figura entre os
pecados capitais sendo propulsora de histórias magníficas.
Rezam as normas do “bom
comportamento” e do catolicismo que o ser humano deve comer e beber o necessário
para manter-se saudável sem dedicar-se a exageros ou “prazer nefastos”.
Quando li o conceito de gula
formulado para um artigo no século XVII por um cidadão chamado Jaucourt que a
definiu como: “um amor refinado e desregrado pela boa comida” percebi
claramente e confesso isso sorrindo, que não consigo imaginar uma regra para se
apreciar a boa comida, e ouso dizer que nem a expressão “boa comida” pode ser
definida numa regra, mas que certamente por este conceito dele sou uma gulosa assumida.
Estou enamorada do livro de Florent
Quellier chamado Gula a história de um pecado capital; como estou ainda a devorá-lo
deixo por enquanto aqui somente alguns fragmentos absolutamente puros retirados
dele, que já permitem entrever os relatos geniais que vão resultar dele.
Baseada no que li e segue abaixo, naturalmente
ressalvadas as proporções, permito-me dizer que o bom mesmo... é
o pecado!
(...) O que é o jejum senão a imagem do céu? O
jejum é o alimento da alma, o alimento do espírito, a vida dos anjos, a morte
do pecado, o cancelamento das dívidas, o remédio da salvação, a raiz da graça,
a base da castidade. Pelo jejum chegamos à Deus.
(...)Porta aberta aos assaltos do
diabo, a boca está na encruzilhada entre o discurso e a assimilação. Alçada ao
pecado capital, a gula torna-se responsável por pecados bem mais graves, às vezes
mortais, tal como o acaloramento dos sentidos que conduz a luxúria. O excesso
de bebidas e de comida, especialmente a carne e molhos picantes, excita o corpo
e o espírito.
Um homem de natureza luxuriosa
quando saboreia um prato condimentado comete incontinente o pecado carnal. As
línguas se soltam, os corpos se tocam, a moral vacila. Forma gravíssima do
pecado da gula a embriaguez pode conduzir a disputas, palavras obscenas ou
blasfemas, a toques que levam a relações extraconjugais ou que tem objetivos outros
que não a procriação. Potencialmente o guloso está na origem das desordens
sociais.
(...) O termo glutão e seus
derivados está sempre associado a depravação e libertinagem. Não só a gula é condenável pelo
pecado original, como também conduz irremediavelmente á luxúria.
(...) Não é por acaso que a
representação iconográfica do inferno, marcada pelo fogo, o aprisionamento e a
fumaça, inspira-se no mundo das cozinhas.
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